Não sei se o autor é esse mesmo, mas seja quem for, ele capta muito bem o universo feminino!
Mulheres quase perfeitas
Texto de Sérgio Goncalves
(Redator da Loducca, publicado no jornal da Agência )
"Se uma memória restou das festinhas e reuniões de familiares da minha infância, foi a divisão sexual entre os convivas: mulheres de um lado, homens do outro.
Não sei se isso hoje ainda ocorre. Sou anti-social ao ponto de não frequentar qualquer evento com mais de 4 pessoas, o que me descredencia a emitir juizo. Mas era assim que a coisa rolava naqueles tempos. Tive uma infância feliz: sempre fui considerado esquisito, estranho e solitário, o que me permitia ficar quieto observando a paisagem. Bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual ia muito além das diferenças anatômicas.
A fronteira era determinada pelos pontos de vista, atitude e prioridades.
Explico: no "corner" masculino imperava o embate das comparacões e disputas. Meu carro é mais potente, minha TV é mais moderna, meu salário é maior, a vista do meu apartamento é melhor, o meu time é mais forte, eu dou 3 por noite e outras cascatas típicas da macheza latina.
Já no "corner" oposto, respirava-se outro ar. As opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir. Falava-se de sentimentos, frustracões e recalques com uma falta de cerimônia que me deliciava. Os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como fofoca. Discordo. Destas reminiscências infantis veio a minha total e irrestrita paixão
pelas mulheres.
Constatem, é fácil. Enquanto o homem vem ao mundo completamente cru, frequentando e bombando no be-a-bá da vida, as mulheres chegam na metade do segundo grau. Qualquer menina de 2 ou 3 anos já tem preocupacões de ordem prática. Ela brinca de casinha e aprende a dar um pouco de ordem nas coisas. Ela tem uma bonequinha que chama de filha e da qual cuida, instintivamente, como qualquer mae veterana. Ela fala em namoro mesmo sem ter uma idéia muito clara do que vem a ser isso. Em outras palavras, ela já chega sabendo. E o que não sabe, intui. Já com os homens a história é outra.
Você já viu um menino dessa idade brincando de ser pai? Você já viu um menino dessa idade brincando de executivo? Já ouviu falar de algum moleque fingindo ir ao banco pagar as contas? Já presenciou um bando de meninos fingindo estarem preocupados com a entrega da declaracão do Imposto de Renda? Não, nunca viram e nem verão. Porque o homem nasce, vive e morre numa existência juvenil. O que varia ao longo da vida é o preço dos brinquedos. E aí reside a maior diferença: o que para as meninas é treino para a vida, para os meninos e fantasia, e competicão, fuga.
Falo sem o menor pudor. Sou assim. Todo homem é assim.
Quanto ao relacionamento homem/mulher, sempre me considerei um privilegiado. Sempre consegui enxergar a beleza física feminina mesmo onde, segundo os critérios estéticos vigentes ela inexistia. Porque toda mulher é linda. Se não no todo, pelo menos em algum detalhe. É só saber olhar. Todas tem sua graça. E embora contaminado pela irreversível herança genética que me faz idolatrar os ícones do cafajestismo, sempre
me apaixonei perdidamente por todas as incautas que se aproximaram de mim. Incautas não por serem ingênuas, mas por acreditarem. Porque toda mulher acredita firmemente na possibilidade do homem ideal.
E esse é o seu único defeito."
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