Varanda
Não é alpendre, nem terraço. Não é balcão, nem sacada. Quando se fala varanda, vemos o sol da manhã e sentimos na pele o seu carinho morno. A palavra varanda abre um lugar dentro de nós onde nunca estamos sozinhos. Varanda é lugar de namoro, de conversa fiada, de esperar o almoço, de pegar uma fresca antes de ir dormir.
Tenho muitas varandas dentro de mim. Varandas de minha infância, onde ouvia as conversas dos mais velhos e amealhava palavras para varandas futuras. Varandas da juventude, onde ensaiei palavras solenes que logo perderam a utilidade e aprendi palavras simples que me valeram no trabalho insano de dar nome ao mundo. Varandas da maturidade, onde as palavras se livram de mim e vão nascer em outras bocas, com novos sentidos, novas cores.
A palavra varanda me acordou de manhã na boca de minha mulher. Ela disse que achava a palavra bonita. Mas sei muito pouco das varandas dela. Por mais íntimos que sejamos de alguém, dificilmente compartilhamos as varandas. Não sei nem quero saber quem freqüenta as varandas que ela guarda ou inventa dentro dela. Quando muito, posso nutrir o desejo legítimo de estar em uma delas. Devo estar, não é? Acho que sim.
Mas o melhor é que seja assim: cada qual com suas varandas. Lugares imaginários para onde podemos ir a qualquer momento e lá encontrar as pessoas certas para cada ocasião. Há varandas para momentos graves, outras para as alegrias, umas para tagarelar, outras para ficar em silêncio.
O importante é que a varanda não deixa ninguém só. Para a solidão temos os terraços, os alpendres, os balcões e as sacadas. Uma varanda é um lugar feito de palavras trocadas entre quem se quer bem. Um lugar onde se possa sentir a presença das vozes que nos cobrem de som e de sentido. Um lugar de onde se veja voar a palavra águia colhida no ar em toda sua beleza.
Ronaldo Monte ? Poeta e psicanalista.
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